A casa nova de Amanda era na verdade um apartamento. Tinha três quartos, sendo um deles suíte; cozinha e área de serviço pequenas; e duas salas, sendo uma, a de estar, e a outra dividida em sala de TV e de jantar. Tamanho suficiente para sua família, agora com cinco integrantes.
Seu quarto era grande, e Amanda fez questão de decorá-lo. Do lado direito do quarto havia uma bancada com estante, que é onde fica o computador, e onde ela estuda.
Essa bancada era de madeira marfim, assim como o armário, a cama e o guarda-roupas embutido.
A estante mostrava seu livros prediletos (José de Alencar, Drummond, Joaquim Manuel de Macedo, Márcia Kupstas, Adelaide Carraro e José Lins do Rego), mostrava também sua coleção de objetos de sapo. Aliás, sua coleção estava em todo o quarto, começando (mudar) pela parede esquerda pintada de verde.
Nessa parede, Amanda colocou um painel com fotos de sua famílias e de seus amigos. Além disso tinha alguns quadros (desenhos que ela mandou emoldurar). Seu predileto era um bem grande, que continha vários desenhos de diferentes tipos: desenhos que fez quando era criança; desenhos que ganhou de seus amigos; que desenhou junto com alguém; desenhos a lápis, tipo esboço; desenhos trabalhosos; caricaturas de um professor chato, ou um colega esquisito... Todos esses desenhos tinham um significado muito especial para ela.
O quarto de Caio e Bruno ficava bem em frente e era muito bem decorado. As paredes azul petróleo, móveis de mogno com adornos de metal prateado. As prateleiras cheias de tudo: livros, revistas, CDs, apostilas do pré-vestibular, revistas de cifras, troféus, lembranças das cidades que visitaram... Na parede uma pintura comprada em uma viagem a Piúma-ES, um navio em meio às ondas, durante o pôr-do-sol.
Era domingo, Amanda arrumou os materiais escolares, deixou o uniforme do colégio em cima da poltrona, deu um beijo em todos e foi dormir.
Caio mexia no computador (fazia um trabalho de filosofia para a faculdade), mas logo iria dormir também. Só demorou mais um pouco por que passou no quarto da irmã para dar mais um beijo nela:
_Tutuca, ta dormindo?
_Tô..._respondeu ironicamente.
_Como é que você ta?
_Ué... Tô bem! Porquê? Como eu deveria estar?
_Não, é que eu... Bom... O quê você está achando daqui?
_Da casa?
_É... Não! De morar! O que você está achando de morar na mesma casa que o Bruno?
_Ah... Sei lá, só estamos morando juntos há dois dias. É como seu eu estivesse passando o final de semana na casa dele (ou ele na minha). Nada muito estranho...
_E o Eddge?
_Ah, ele é legal!
_Você acha?
_Acho! Sempre achei ele legal... Você não acha?
_Não sei... Quero dizer: Achava ele legal como namorado da mamãe, mas daí a ser meu padrasto, eu não sei.
_Mas você sempre apoiou a mamãe quando ela estava pensando em se casar.
_É claro, se isso era o melhor pra ela, eu tinha que apoiar, mas na verdade não pensei se isso seria bom pra mim... Nem pra você! Só pensei que seria bom pra ela... gosto do Eddge, mas não sei direito como deveria ser a nossa relação com ele.
_Um... Tipo: se vai nos tratar como filhos, ou apenas como “os filhos da minha mulher”_Amanda fez uma cara de debeche, e uma careta. Caio riu.
_Sua boba!_ disse bagunçando com a mão o cabelo da irmã _Mas agora, falando sério, é mais ou menos isso. Eu não sei como devo ser com ele. Não sei se a gente vai ter papos de amigos, ou sermões e conselhos, se eu vou ficar na companhia dele numa boa, ou se vou preferir ficar o dia todo fora de casa...
_Lamento te dizer isso_ franziu a testa _Mas agora é meio tarde pra pensar se ele seria um bom padrasto.
_Eu sei..._ nessa hora Caio acabou deitando na cama da irmã, ficou alguns segundos pensativo e terminou por dizer: _Deixa eu ir pra cama então que amanhã eu tenho que acordar cedo... e a senhorita também, né?
Já da porta disse um “boa noite” à irmã, que o respondeu mandando um beijo.