terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A Casa Nova

A casa nova de Amanda era na verdade um apartamento. Tinha três quartos, sendo um deles suíte; cozinha e área de serviço pequenas; e duas salas, sendo uma, a de estar, e a outra dividida em sala de TV e de jantar. Tamanho suficiente para sua família, agora com cinco integrantes.

Seu quarto era grande, e Amanda fez questão de decorá-lo. Do lado direito do quarto havia uma bancada com estante, que é onde fica o computador, e onde ela estuda.

Essa bancada era de madeira marfim, assim como o armário, a cama e o guarda-roupas embutido.

A estante mostrava seu livros prediletos (José de Alencar, Drummond, Joaquim Manuel de Macedo, Márcia Kupstas, Adelaide Carraro e José Lins do Rego), mostrava também sua coleção de objetos de sapo. Aliás, sua coleção estava em todo o quarto, começando (mudar) pela parede esquerda pintada de verde.

Nessa parede, Amanda colocou um painel com fotos de sua famílias e de seus amigos. Além disso tinha alguns quadros (desenhos que ela mandou emoldurar). Seu predileto era um bem grande, que continha vários desenhos de diferentes tipos: desenhos que fez quando era criança; desenhos que ganhou de seus amigos; que desenhou junto com alguém; desenhos a lápis, tipo esboço; desenhos trabalhosos; caricaturas de um professor chato, ou um colega esquisito... Todos esses desenhos tinham um significado muito especial para ela.

O quarto de Caio e Bruno ficava bem em frente e era muito bem decorado. As paredes azul petróleo, móveis de mogno com adornos de metal prateado. As prateleiras cheias de tudo: livros, revistas, CDs, apostilas do pré-vestibular, revistas de cifras, troféus, lembranças das cidades que visitaram... Na parede uma pintura comprada em uma viagem a Piúma-ES, um navio em meio às ondas, durante o pôr-do-sol.

Era domingo, Amanda arrumou os materiais escolares, deixou o uniforme do colégio em cima da poltrona, deu um beijo em todos e foi dormir.

Caio mexia no computador (fazia um trabalho de filosofia para a faculdade), mas logo iria dormir também. Só demorou mais um pouco por que passou no quarto da irmã para dar mais um beijo nela:

_Tutuca, ta dormindo?

_Tô..._respondeu ironicamente.

_Como é que você ta?

_Ué... Tô bem! Porquê? Como eu deveria estar?

_Não, é que eu... Bom... O quê você está achando daqui?

_Da casa?

_É... Não! De morar! O que você está achando de morar na mesma casa que o Bruno?

_Ah... Sei lá, só estamos morando juntos há dois dias. É como seu eu estivesse passando o final de semana na casa dele (ou ele na minha). Nada muito estranho...

_E o Eddge?

_Ah, ele é legal!

_Você acha?

_Acho! Sempre achei ele legal... Você não acha?

_Não sei... Quero dizer: Achava ele legal como namorado da mamãe, mas daí a ser meu padrasto, eu não sei.

_Mas você sempre apoiou a mamãe quando ela estava pensando em se casar.

_É claro, se isso era o melhor pra ela, eu tinha que apoiar, mas na verdade não pensei se isso seria bom pra mim... Nem pra você! Só pensei que seria bom pra ela... gosto do Eddge, mas não sei direito como deveria ser a nossa relação com ele.

_Um... Tipo: se vai nos tratar como filhos, ou apenas como “os filhos da minha mulher”_Amanda fez uma cara de debeche, e uma careta. Caio riu.

_Sua boba!_ disse bagunçando com a mão o cabelo da irmã _Mas agora, falando sério, é mais ou menos isso. Eu não sei como devo ser com ele. Não sei se a gente vai ter papos de amigos, ou sermões e conselhos, se eu vou ficar na companhia dele numa boa, ou se vou preferir ficar o dia todo fora de casa...

_Lamento te dizer isso_ franziu a testa _Mas agora é meio tarde pra pensar se ele seria um bom padrasto.

_Eu sei..._ nessa hora Caio acabou deitando na cama da irmã, ficou alguns segundos pensativo e terminou por dizer: _Deixa eu ir pra cama então que amanhã eu tenho que acordar cedo... e a senhorita também, né?

Já da porta disse um “boa noite” à irmã, que o respondeu mandando um beijo.

O Primeiro Dia

Então era isso: Bruno e Amanda iam morar na mesma casa. E eles estavam achando isso sensacional.

No primeiro dia em que passaram em sua nova casa, os dois ficaram quase todo o tempo no quarto de Amanda. Primeiro ouviam música: Bruno mostrava seu CDs de rock para Amanda, mas ela logo se cansou daquilo tudo, rock pesado não era com ela! Colocou um CD de forró, e é claro que Bruno reclamou, implicou, e a chamou de patricinha... Ele sabia que ela não era nenhuma patricinha, e que nem gostava tanto assim de forró, mas ele adorava ver a sua carinha de brava, ate por que, toda vez que a garota tinha um ataque de raiva, ia com tudo pra cima de Bruno, e ele apenas a segurava. Ela tentava se livrar de seus braços, lutava, e acabava desistindo, fazendo uma careta, ou até mesmo, enchendo o namorado de beijos, e é claro que Bruno se divertia muito com essa situação.

Mas dessa vez ela não ligou para as implicâncias. Dançava ao som de Elba Ramalho, uma música lenta e romântica. Ouvia de olhos fechados, dançava de uma forma sensual, mas ao mesmo tempo inocente. Seu rosto tinha uma expressão plena de felicidade.

Abriu os olhos e viu que Bruno a olhava com tanta ternura. Pensou em dizer a ele que não sabia se poderia estar mais feliz, mas apenas sorriu e estendeu a mão convidado-o para dançar.

Ele pegou em sua mão, mas ficou parado, como se quisesse, ao invés de dançar com ela, apenas vê-la bem de perto. Ver seu rosto, moreno e lindo, envolto em suas longas madeixas negras, que dançavam também no balanço do seu corpo, e sentir seu suave perfume.

Amanda fechou novamente os olhos, e dançando, foi aproximando seu corpo ao do namorado. Dançava leve e linda. Colocou seus braços sobre os ombros do amado, e cantava baixinho, quase sussurrando:

“Oiô, ioiô, ioiô, me encantei por teu olhar... Moreno, chega mais pra cá. Meu dengo, vem me chamegar...

Oiô, ioiô, ioiô, seu jeito de balancear, o corpo inteiro, faz meu coração bater ligeiro. Assim eu vou me apaixonar.”

Aos poucos o corpo de Bruno ia se envolvendo ao ritmo da música, à melodia, cantada por sua amada, e ao corpo dela que requebrava suave.

Abraçou-a, e antes que pudesse arriscar alguns passos, naturalmente desastrosos, Amanda foi diminuindo o ritmo. Pegou o rosto dele entre as mãos, observou cada detalhe, como se fosse a primeira vez que o via (observou cada detalhe do rosto de Bruno, como se nunca o tivesse visto). Ela adorava seu rosto... Os olhos lindos e castanhos (pretos), sobrancelhas grossas, pele clara, o nariz fino e empinado...

Passou os dedos de leve em suas sobrancelhas, desceu o indicador por seu nariz, até a boba. Contornou-a com os dedos, e deslizou sua mão novamente para a face do garoto.

Ela gostava de sentir aquela pele, tão macia. Bruno deu nela um “selinho”, tão de leve, com se não quisesse quebrar o clima de doçura.

Amanda retribuiu com um beijo terno, calmo e apaixonado.